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Construção de Mundos #7: Cidades

Agora que já planejamos uma parte do mundo que vamos criar, é o momento de decidir melhor como serão as cidades (ou vilas, vilarejos) da nossa história. E então, vamos lá ver quais são as possibilidades à nossa frente!

Onde colocar suas cidades?

Antes de mais nada, é bom ressaltar o que define o começo de uma cidade em contraste com uma vila, aldeia ou tribo. A cidade passa a existir a partir do momento que os habitantes podem se especializar em uma variedade maior de trabalhos/funções sem precisarem todos contribuir para a caça ou o plantio, por exemplo.

Uma aldeia dos tempos antigos geralmente tinha poucas funções disponíveis (quase sempre envolvendo o grupo que governa, o grupo que caça/cria animais, o grupo que coleta/planta alimentos e um grupo sacerdotal/espiritual), assim como um número de habitantes limitados. Mas assim que as pessoas conseguiram juntar recursos e espaço suficientes, elas puderam se dividir e especializar em funções diversificadas (ex.: surgem os sapateiros, os artesãos, os construtores, os escribas, etc.).

Com isso definido, vamos seguir para os locais onde criar cidades (ou aldeias, como quiser). Onde as pessoas do seu mundo vão decidir viver depende do nível de desenvolvimento tecnológico e/ou mágico ao qual elas têm acesso.

Antiguidade

“Amonkhet” por 88grzes no DeviantArt

Se o seu universo é baseado no mundo antigo e as pessoas possuem apenas tecnologias condizentes com as que existiam aqui nessa era, o mais comum que encontramos na História são cidades construídas em locais nos quais o acesso aos recursos é facilitado. Quase sempre, algum rio ou nascente estavam por perto de onde podiam buscar água potável; o solo podia ser fértil ou não, porém, no segundo caso, algo a mais deveria compensar isso (como acesso a frutas e nozes que podem ser coletadas na vegetação ao redor e/ou fácil acesso a carne de caça); e o clima minimamente favorável. Caso o seu mundo seja ambientado nesse cenário histórico, mas seus personagens têm acesso a um sistema de magia que facilita o acesso/transporte de recursos, as possibilidades de locais onde se viver se tornam mais amplas.

Período Medieval e Pré-Industrial

“Medieval arabic city” por Hetman80 no DeviantArt

Outro fator importante para cidades antigas, medievais e até mesmo pré-industriais são as rotas de comércio. Afinal, a partir do momento que as civilizações se desenvolvem o suficiente para criar meios de troca de produtos e suprimentos, traçar os caminhos possíveis para esse transporte se torna algo importante, assim como construir cidades, vilas e postos nos melhores locais antes que mais alguém decida fazer isso.

O comércio e a delimitação das rotas também permitiu que mais lugares pudessem ser habitados, já que agora os suprimentos e ferramentas necessários para a sobrevivência podem ser levados até lá. E, para isso, ainda seria preciso fundar habitações em locais acessíveis, o que ainda é um pouco limitado. É nesse momento que cidades ao longo de rios mais distantes ou próximas ao mar começaram a surgir, ou até mesmo entre montanhas se as rotas passam por ali.

Cidades-estados são um caso especial. Com elas, foque nesses três pontos: a sua cidade-estado precisa estar longe o suficiente de uma potência para não engolida por ela, assim como ser ótima para se defender (estar entre montanhas ou pântanos de difícil acesso para um grande exército), mas que consiga participar do comércio o suficiente para se manter prosperando.

O que levanta a questão: às vezes, dependendo das necessidades de um povo, eles podem escolher um local mais complicado para se viver porque ele é mais fácil de defender, além de oferecer recursos para sobrevivência.

Em As Crônicas de Gelo e Fogo (ou Game of Thrones), temos a Cidade Livre de Braavos que foi fundada por escravos fugidos do império valiriano 800 antes da história principal acontecer. Como os valirianos tinham dragões, os ex-escravos sabiam que precisavam fugir para o mais longe que conseguissem e para um local onde pudessem se esconder de escoltas aéreas. Então, eles saíram do extremo sul de Essos para o extremo norte até encontrarem uma laguna com várias ilhotas (difíceis de invadir por terra) encobertas por uma névoa densa e constante (que os escondia da visão dos cavaleiros de dragão), rodeadas por um enorme paredão montanhoso (dificultando ataques marítimos). As ilhotas lhes forneciam acesso à água e à pesca, possibilitando sua alimentação. Por 500 desses 800 anos, Braavos se manteve escondida do mundo e se revelou somente quando o império caiu e a maioria dos dragões morreu na Perdição de Valíria. A partir de então, se tornaram um centro mercantil importantíssimo para Essos e para Westeros.

Com o passar do tempo, os Estados maiores e mais centralizados vão se formando e, geralmente, as cidades que se tornam as capitais envolvem:

  • Grande acesso a recursos e/ou;
  • Facilidade de defesa contra invasões e/ou;
  • Acesso a várias rotas de comércio e/ou recursos importantes para essa civilização e/ou;
  • Proximidade de pontos religiosos importantes e/ou;
  • Uma boa localização de onde o governo pode manter controle sobre as cidades ao seu redor.

Era Industrial

“St Cuthbert’s Station: 1874” por PeteAmachree no DeviantArt

Um fator determinante das revoluções industriais é a descoberta de novas tecnologias movidas a energias combustíveis, causando um salto enorme em facilidade de vida, de transporte, de comunicação, energia e armas.

Quando uma sociedade descobre esse tipo de fonte de energia para suas tecnologias, é natural que comecem a aparecer cidades em locais onde esses recursos podem ser encontrados sem problemas. Na nossa primeira revolução industrial, baseada no uso da energia de combustão de carvão, inúmeras cidades mineradoras surgiram em regiões ricas em carvão. Se a sua sociedade usa uma fonte de energia diferente (eólica, força da água, solar, ou até mesmo uma substância que só existe na sua história), não há problemas! O que se deve manter em mente é que as pessoas dessa sociedade irão atrás das fontes de energia que precisam e utilizar suas novas tecnologias de transporte ao seu favor para alcançarem esses lugares, então é sempre interessante pensar nesses detalhes.

Era Pós-Industrial

“Modern Metropolis sunset” por arsenixc no DeviantArt

O momento em que vivemos hoje! Esse fica um pouco mais fácil, porém ainda nem tão intuitivo quanto pareça ser. Hoje temos uma melhor qualidade de vida, com meios de transporte e comunicação tão eficazes que podemos basicamente criar uma cidade onde bem entendermos, e importar ou exportar produtos sem maiores complicações.

No mundo atual e no nosso modelo socioeconômico, finanças são importantes, então é muito comum vermos cidades inteiras especializadas em um determinado setor de empregos (produção de sapatos, exportação de cana, cidades turísticas, etc.), assim como suas propagandas para o resto do país girarão ao redor disso – e, muito provavelmente, veremos financiamentos governamentais bem mais interessados nessas áreas, podendo, como consequência, ignorar outros pontos igualmente importantes (ex.: negligenciar o sistema de saúde, o sistema educacional, a infraestrutura dos bairros que não são de maior interesse aos compradores que vêm de fora).

As cidades de hoje também costumam ser mais planejadas do que as antigas, sendo este um traço, na verdade, presente desde o século 17 na Europa. Desse modo, a cidade da sua história pode ter localizações muito bem planejadas e bem distribuídas, e/ou então passar por constantes reformas nos bairros de modo a modernizá-los, talvez preservando ou não um centro/bairro histórico.

Mundos futuristas

Quem sabe? Dependendo de como a sua história desenvolverá o futuro (melhor ou pior do que hoje?), as possibilidades são infinitas. Podemos criar centros urbanos em qualquer lugar, no oceano ou no espaço; ou podemos retornar aos princípios das épocas anteriores, nos apoiando mais em locais que fiquem próximos de reservas naturais específicas.

O mundo está nas nossas mãos para explorar.

Como a cidade funcionará?

Lembre-se sempre de repensar em qual cultura você criou (sobre a qual falaremos melhor nos próximos posts), nos sistemas mágicos e tecnológicos, pois eles refletem diretamente na forma que as cidades funcionam. Seria interessante também começar a pensar em um sistema socioeconômico vigente, já que, como vimos, isso acabará modificando não só o design da cidade ou onde ela é erguida, mas também para onde as verbas serão direcionadas, quais tipos de edifícios serão os mais valorizados e até mesmo a forma de organização das construções.

REFERÊNCIAS

BRAAVOS. Game of Thrones Wiki. Disponível em: <https://gameofthrones.fandom.com/pt-br/wiki/Braavos >. Acesso em: 2 abr. 2021.

HELLO Future Me. On Worldbuilding: WHY are cities where they are? YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8sn_6xKotUU >. Acesso em: 2 abr. 2021.

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